Nascida em Campinas (SP),  Evanir Rodrigues tem 69 anos, sendo 55 dentro do candomblé. É líder religiosa, compositora, cantora, mãe solo de dois filhos e avó.  Mãe Iberecy — como é conhecida — é  figura central da Casa de Cultura Ibaô.

O Instituto Ibaô é um espaço alicerçado na prática da capoeira, e de seus fundamentos, que dialoga com as diferentes formas de reconstrução e ressignificação das referências afro-brasileiras na comunidade. O Ibaô é permeado pela espiritualidade africana e a materialização deste axé é o terreiro da Mãe Iberecy.

Aos 14 anos, Iberecy entrou para a Umbanda e com 16 foi iniciada. “Meu pai de santo morreu, depois disso eu disse: não quero mais ‘pai’. Agora eu sou a ‘mãe’! A minha vida é o espiritual, gosto muito do que faço”, diz.
Mãezinha conta que tem mais de 300 ‘filhos’ espalhados pelo mundo todo. “Eu tenho oito irmãos comigo, todos eles são do santo, mas quem ficou com o terreiro fui eu. Eu que tive essa missão.” Ela sofreu na pele a discriminação. Chegou a  ficar em casa por 30 anos, sem quase sair. Realizava os rituais lá, uma vez que não era convidada para ir em outros terreiros, por preconceito, já que tocava a umbanda e o candomblé. “A gente sente o preconceito forte, mas como carrega o santo eles nos protegem”, diz.

Ela se descreve como uma pessoa simples, que conversa e tem amizade com todos, mas mantém punho forte: “Falo o que tenho que falar”. Mãezinha se orgulha também dos prêmios que ganhou com as composições de samba enredo de escola. "Se um dia forem na minha casa, vocês vão ver a parede cheia de troféus”, diz.

Sua vida está intimamente ligada ao samba. Filha de uma tradicional família de sambistas, a música e elementos da cultura negra como a capoeira entrelaçam a história de seu terreiro, berço da tradicional Escola de Samba Renascença.

Em época de desfile da escola, o espaço — que fica próximo a rua Moema, primeira rua de samba da cidade — deixava de ser terreiro para se transformar em oficina de costura dos figurinos.