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AS MATRIARCAS

Retratos das Mulheres nas Culturas Populares e Tradicionais Paulista

Volume 1

Matriarcas encaram os donos do poder

Matriarcas é um projeto encabeçado por Fabiana Ribeiro, documentarista visual cujas atuações nas últimas duas décadas mantêm interfaces com vários campos das práticas artísticas e movimentos sociais de cultura em Campinas (SP) e região.

Sua trajetória, num primeiro momento, como gestora encarregada dos trâmites da comunicação na institucionalidade pública municipal e, posteriormente, como fotógrafa autônoma e parceira de grupos, coletivos e comunidades localiza-a na esfera militante das trabalhadoras e trabalhadores municipais que resistem aos adversos meandros da máquina pública da cultura local. Em 2013, passou a ser produtora de discursos visuais sobre os movimentos sociais de cultura e direitos humanos. Com as produções, num duplo gesto de protagonismo, buscou dar visibilidade à diversidade de rostos e expressões presentes nos campos da criação cultural e das lutas sociais, como também inserir sua presença autoral como fotógrafa da cena cultural e política. Nas imagens criadas para o projeto Matriarcas a fotógrafa celebra o experienciado nesse percurso ao trazer à frente de suas lentes mulheres de várias gerações de luta.

Essa primeira edição do projeto não contempla toda a ampla gama de Matriarcas em exercício pleno de protagonismo na cidade e região, mas dá conta de retratar um segmento expressivo das que atuam em territórios da cultura popular.

A fotógrafa elegeu o retrato posado como signo da relação construída com essas mulheres e seus territórios. Todo retrato é um ato político. Todo retrato posado é resultante de uma relação entre os sujeitos sociais envolvidos no ato. Matriarcas é uma documentação visual que tem o retrato posado como o centro da proposta, portanto, é uma documentação criada na relação coautoral entre a fotógrafa e as fotografadas, o que implica reconhecimento e partilhamento de intenções e repertórios políticos e poéticos.

Os repertórios que esse conjunto de retratos condensa, buscam dar a conhecer a potência do que é ser uma Matriarca, potência esta que foi intencionalmente retratada tanto em imagens de corpos e expressões de mulheres altivas, que há muitas décadas exercem e ensinam a autoridade ancestral, como em imagens das mais jovens que ao superar adversidades do presente evocam e reverenciam tal dignidade gestual. Dessa forma, cada uma delas carrega tal potência, mas é o conjunto que amplifica suas forças.

Matriarcas é um discurso poético político criado por mulheres potentes que se reconhecem inseridas nas lutas do presente e que juntas disputam o terreno das visualidades; armadas com suas lentes, suas cores, seus adornos, seus objetos sagrados e suas capacidades de expressar igualmente força e afeto essas mulheres afirmam a necessidade de enfrentar os que negam suas trajetórias e seus conhecimentos. Dessa forma, coletivamente, se afirmam autoras de suas histórias e criadoras de suas existências visuais.

Matriarcas é um ato de afirmação e resistência, diante do projeto político do capital que controla os aparatos de comunicação que buscam disseminar o ódio, destruir conhecimentos ancestrais e fragmentar as forças populares.

Especialmente nestes dias, evocar a potência coletiva das Matriarcas é também afirmar a capacidade da classe trabalhadora de lutar contra o fascismo, pois, sem dúvida, as Matriarcas — a seu modo — sempre encaram os donos do poder.

Sônia Aparecida Fardin Militante dos movimentos culturais e doutora em Artes Visuais

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